Até o Walmart quer tirar uma “casquinha” da inteligência artificial

 

Até o Walmart quer tirar uma “casquinha”

Um dos nomes mais tradicionais do varejo americano, o Walmart tem, assim como muitos players do setor, a Amazon como principal concorrente. Apesar dessa competição, alguns movimentos recentes mostram que, curiosamente, a rede americana parece estar buscando inspiração em sua maior rival.

O exemplo mais recente sob essa orientação foi conhecido na quinta-feira, 14 de março, e vem embalado em uma onda que vem ditando os rumos no mercado. A empresa anunciou que vai passar a ofertar uma plataforma com algoritmos de inteligência artificial, desenvolvidos para a sua própria operação de logística nos últimos anos, a outros varejistas.

Com esse movimento, o Walmart reforça a aproximação com o viés adotado há mais de uma década pela Amazon, que, a partir de recursos desenvolvidos, testados e amadurecidos dentro de casa, tem ampliado seus domínios para além do varejo.

O primeiro e maior exemplo da Amazon nessa direção é a Amazon Web Services (AWS). Fundada em 2006, a companhia oferece serviços e infraestrutura de tecnologia da informação a outras empresas. E, em 2023, respondeu por US$ 90,7 bilhões da receita total de US$ 574,7 bilhões do grupo no período.

No caminho para seguir essa mesma pegada de diversificação, o novo passo do Walmart está centrado na oferta de um software de otimização de rotas, que, segundo a rede, já evitou que sua operação percorresse 30 milhões de quilômetros desnecessários, ao “desviar” de 110 mil “trajetos ineficientes”.

“Investimos tempo, recursos e conhecimento operacional significativos na construção de soluções como o Route Optimization, e isso pode ser uma barreira para muitas empresas”, disse, em nota, Anshu Bhardwaj, vice-presidente sênior e chief operating officer (COO) do Walmart.

“Ao adotar nossa tecnologia em grande escala, alimentada por IA, as empresas podem eliminar a necessidade e as despesas de desenvolvimento da sua própria tecnologia e, em vez disso, concentrar-se no que fazem de melhor: atender seus clientes”, acrescentou o COO.

Entre outros recursos, o software tem monitoramento em tempo real e permite traçar o melhor roteiro com múltiplas paradas, levando-se em conta fatores como horário, localização e janelas de entregas nas lojas. Também é possível planejar o carregamento dos caminhões, maximizando o espaço.

O segmento de logística é justamente um dos campos em que a Amazon e outros varejistas têm investido na oferta da estrutura criada para apoiar suas operações a outros nomes do setor. Isso envolve, por exemplo, os serviços de fulfillment e de entregas para os sellers cadastrados em seus marketplaces.

Essa plataforma é apenas uma das vias que vem sendo abertas pelo Walmart para ampliar suas fronteiras. No território da tecnologia, a varejista já oferece, por exemplo, há cerca de dois anos, sistemas para aprimorar frentes como check out, atendimento de pedidos e entregas on-line.

Em uma iniciativa mais recente, ligada a outra vertente de negócio, a rede anunciou em fevereiro deste ano a compra da Vizio, fabricante americana de smart TVs, em uma transação avaliada em cerca de US$ 2,3 bilhões.

Até o Walmart quer tirar uma “casquinha”

O racional por trás desse desembolso milionário foi capturar uma parcela mais significativa de receitas na área de publicidade. Especialmente por meio do SmartCast, sistema operacional por meio do qual a Vizio já gera boa parte do seu faturamento.

Com o acordo e a possibilidade de exibir anúncios em serviços de streaming parceiros da Vizio, aliada à sua escala, o plano do Walmart é acelerar o Walmart Connect, seu braço de mídia, que registrou uma receita global de US$ 3,4 bilhões em 2023. No período, a receita total da rede foi de US$ 648,1 bilhões.

O segmento de publicidade é também mais um espaço em que a Amazon já fincou seus pés, por meio do Amazon Ads. No ano passado, essa divisão alcançou uma participação de 8,1% no resultado do grupo, ao reportar uma receita de US$ 46,9 bilhões.

Os Ads para as varejistas

O Walmart não é, no entanto, o único varejista a seguir a trilha de diversificação da gigante fundada por Jeff Bezos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Target anunciou neste mês que a sua área de publicidade vem se consolidando como um grande impulsionador de suas receitas.

Já na América Latina, para ficar apenas nesse espaço da publicidade, um dos players é o Mercado Livre, que vem avançando nessa esfera com o Mercado Ads. Outro nome a seguir essa tendência é o Magazine Luiza, com o MagaluAds.

Em contrapartida, a varejista liderada pela família Trajano é também um entre outros tantos exemplos que ilustram e reforçam o fato de que essa jornada além do varejo tem barreiras e sobressaltos pelo caminho.

A operação, que, no fim de janeiro, anunciou uma capitalização de R$ 1,25 bilhão, ancorada pelo próprio clã Trajano e pelo BTG Pactual, vem encontrando dificuldades para se consolidar em outras frentes de negócio.

Esse itinerário mais desafiador tem sido dificultado, inclusive, pela competição com nomes como a própria Amazon. E se traduziu, nos balanços mais recentes, no aumento da dívida líquida e, por consequência, na redução do caixa da operação.

Como principais destinos da nova captação, a varejista elegeu exatamente áreas que dão o tom da sua disposição em avançar em outras frentes a partir do varejo e, nas quais, ainda está aquém dos rivais. Entre elas, os serviços ofertados a parceiros nos segmentos de advertising, de fintech, de fulfillment e de nuvem.

Distante desse cenário de competição no Brasil, as ações do Walmart estavam sendo negociadas com ligeira queda de 0,5% nos Estados Unidos, por volta das 11h15 (horário local). No ano, os papéis da rede, avaliada em US$ 489,5 bilhões, registram, porém, alta de 15,6%.

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