O símbolo por excelência da Vila Operária é o trabalho, seu elemento fundante e razão de sua existência. Pensando nisso é de supor que uma sociedade do labor não encontrasse tempo, vontade nem disposição para o lazer. Todavia, não foi bem isso que aconteceu; são vários os registros de formas de diversões praticadas pelo povo, ressaltando- se aquelas de natureza popular, prescindindo de recursos financeiros para sua consecução.
O futebol talvez tenha a primazia histórica entre as modalidades lúdicas desfrutadas pelo povo da vila. Se não bastasse a infinidade de campos de várzea espalhados, havia o espaço destinado pela CMNP a esse fim, e que hoje em dia atende pelo nome de “Brinco da Vila”, um terreno com as dimensões de uma quadra e que fica na Rua Furtado de Mendonça com a Avenida Paissandu. Esse campo foi previsto pelos técnicos da Companhia e figura no plano urbanístico de 1947, e posteriormente foi doado à comunidade pela empresa de colonização. Nos anos 1950 fundou-se o ECO (Esporte Clube Operário), um time de futebol amador que disputava campeonatos organizados em Maringá e região, consubstanciando-se no principal programa de fim-de-semana dos habitantes do bairro, que lotavam o campo (chegou a ter refletores de iluminação) a fim de assistirem aos jogos. O interessante nessa equipe era a sua formação; os jogadores, em sua grande maioria, residiam na Operária, o que aumentava a identificação do povo com o time, sem contar com a natureza amadora que o norteava, despido de toda e econômico-financeira; cultivava-se somente o prazer de jogar bola. A extinção do ECO causou um impacto negativo entre o população da vila. Depois de muita discussão; seu espólio (entenda-se o campo) foi incorporado pelo GEM (Grêmio de Esportes Maringá), que passou a treinar e manter uma república de jogadores no denominado “Brinco da Vila”, permanecendo nesse estado de coisas até agora, apesar de várias vezes ter sido ameaçado de ser levado a leilão público em decorrência das más administrações do GEM. A perda desse espaço representou para a coletividade não apenas a morte trágica de uma equipe local, mas primordialmente o encerramento de uma oportunidade de sociabilidade, um ponto de reunião que congregava pessoas com vários interesses, mas que extravasavam seus problemas diários com as partidas de futebol e a conversa com os amigos.

A última grande contribuição na área esportiva, aplicada à massa da vila, foi a construção, em 1976, do Centro Esportivo Dr. Luiz Moreira de Carvalho, localizado na Praça Regente Feijó, um complexo de direito público criado com o objetivo de ofertar ao povo do bairro aulas de natação, futebol de salão, handebol, basquete, vôlei e outras práticas desportivas. O mais significativo dessa iniciativa é seu caráter popular, suprindo a real necessidade de uma gente carente de opções de lazer.
Em certos momentos, é deveras difícil separar o jogo da diversão; é um tipo de simbiose que passa despercebido para a maioria das pessoas. Exemplo disso eram as brigas de galos levadas a efeito na Operária durante os decênios de 1960 e 1970. Esse confronto animal realizava-se em rinhas, uma espécie de arena improvisada no fundo do quintal das casas, e mobilizava grupos enormes de pessoas ávidas de observar as aves se engalfinharem. Claro que havia uma motivação extra, a aposta em dinheiro para ver que galo vencia. Independentemente da crueldade e ilegalidade dessa luta, o fato é que ela fez parte da cultura local por bom tempo, levando inclusive à montagem de galinheiros, visando à perpetuação do estoque de galos de combate.

O entretenimento pode-se manifestar de várias formas, e a festa certamente é uma das mais fortes expressões da alegria do povo. O Clube Paulistano teve vida breve, porém intensa, no que concerne ao afluxo de pessoas aos seus concorridos bailes. Atraía preferencialmente uma parcela de povo impossibilitada, por motivos pecuniários, de freqüentar o Aero-Clube e o Grêmio dos Comerciários, entidades mantidas por estratos da sociedade com uma renda bem superior à dos habitantes da Vila Operária. Uma das razões que levaram ao cerramento das portas do Clube Paulistano foi o preconceito socioeconômico de alguns moradores do bairro, que reclamavam junto ao poder público do barulho provocado pelos bailes, e a Prefeitura, atendendo ao apelo, “recomendou” o fechamento do salão de danças. Vedada essa alternativa, intensificaram-se as festas domiciliares, única forma de escapar da vigilância dos insatisfeitos. Nos anos 1970 proliferaram como cogumelos na floresta as brincadeiras dançantes, reuniões de jovens em casas da vila, que se convertiam em legítimas discoteques, promovidas com som, luzes e muita gente animada que, não tendo dinheiro para ir às boates do centro da cidade, improvisava nas residências um simulacro dessas casas noturnas de diversão.
Hoje em dia, na Operária, diminuíram sintomaticamente as festas caseiras, limitando-se aos eventos corriqueiros, como aniversários, casamentos, churrascadas, peixadas etc. Praticamente desapareceram as reproduções de danceterias, talvez vítimas das queixas dos vizinhos incomodados com o elevado volume dos aparelhos de som, ou ainda em razão do arrefecimento da onda da disco music, que teve nos anos 1970 o seu fastígio.
Se é que podemos falar de um lugar enraizado (literalmente) na história da Operária, esse local é o Parque do Ingá, que, fora o aspecto ecológico e ambiental que tão bem o caracteriza, ofereceu ao longo dos tempos um vasto campo de lazer aos moradores. Antes de ser urbanizado no início dos anos 1970, essa reserva florestal era regularmente visitada pelas crianças e jovens desprovidas de outras opções de divertimento. Pescar, correr, jogar bola, apanhar frutas no mato, eram algumas das atividades desenvolvidas no parque. Um lance curioso na trajetória histórica do bosque foi sua planejada urbanização, que implantou melhorias das mais úteis à coletividade (aliás o termo “bosque”, pelo menos na Zona 03, é o mais usado), e nessas benfeitorias inclui-se o portão oficial de entrada, voltado para a Avenida Anchieta ou Avenida São Paulo. Do outro lado, diametralmente oposto, construiu-se outro portal de entrada, com frente para a Avenida Laguna, só que bem menos sofisticado, uma entrada simples que mais parece saída de emergência ou acesso de serviço, numa diferença gritante entre as duas aberturas. Mesmo com essa distinção, o Parque do Ingá mantém suas características sociais dos primórdios: quase a totalidade dos seus usuários são das classes C e D. Concentrados nos finais de semana, os freqüentadores têm na periferia de Maringá e no município de Sarandi sua origem residencial.
Outra referência obrigatória, quando se pronuncia o nome da Vila Operária, é o Cine Horizonte, inaugurado em 1951 (um dos primeiros cinemas de Maringá), integralmente de madeira e que tinha no andar superior um hotel com 28 quartos, condição imposta pelo Sr. Inocente Villanova Jr. (futuro prefeito) para doar o material de construção do prédio. A família Del Grossi, procedente de Apucarana, chegou a Maringá e comprou da CMNP um terreno na Avenida Brasil. Com ajuda do Sr. Villanova Jr., construíram o cinema, um espaço de 550 lugares dedicados ao aconchego da população amante da sétima arte. O cinema atendeu nesse endereço até princípios dos anos 1960. Em 1966 o edifício de alvenaria ficou pronto, na Avenida Riachuelo, esquina com a Rua Néo Alves Martins, um projeto arrojado para a época e que teve como autor o engenheiro Hans Denger, alemão radicado em Londrina. Essa nova sala foi criada para comportar 1.600 pessoas (o triplo da antiga). Quer seja o velho de madeira, quer seja o novo de cimento e pedra, o Cine Horizonte embaralha-se na história do bairro e de seus moradores. Em meados dos anos 1980, outro cinema da Operária foi fechado, o Cine Peduti, chamado antes de Cine Paraná e Cine Ouro Preto, tendo como dono o Sr. Odwaldo Bueno Neto, que, cansado e desmotivado para esse ramo, vendeu o terreno e as instalações do cinema a uma empresa de materiais de construção. Enquanto durou, o Cíne Peduti exibia filmes de alto nível e era freqüentado por uma elite financeira e intelectual, sendo por várias ocasiões usado como palco para projeção de fitas ligadas ao Cine-Clube de Maringá, em horários experimentais. Sua decoração interior primava pelo refinamento e bom gosto, aspectos que eram levados em conta na hora de definir os preços dos ingressos, os mais caros dos cinemas maringaenses.

Geograficamente, o Cine Peduti ficava na fronteira entre a Vila Operária e o Centro, recebendo maior influência desta segunda região, o que não significa que não fosse freqüentado por moradores da Operária; muito pelo contrário, porém estes elegiam o Cine Horizonte como seu predileto, por reunir um conjunto de especificidades com forte apelo junto ao povo das camadas mais simples. A divulgação da programação do cinema era um espetáculo à parte, começando pelo material visual de promoção dos filmes, que, por muito tempo, eram reproduções pictóricas gigantes dos cartazes originais, um trabalho de artista plástico que variava de modo a permitir a colocação de objetos em exposição na fachada do cinema, coerentes com o filme em andamento. Essas “instalações” chegaram ao cúmulo, em certa oportunidade (anos 1970), de transferir um avião do aeroporto para a frente do cinema, estilizando-o a fim de assemelhar-se a uma aeronave semidestruída (o filme que motivou essa produção foi “Os sobreviventes dos Andes”). Ainda hoje, além dos canais convencionais de propaganda (rádio, jornal, cartazes em ônibus, bares etc.), o cinema mantém em regime integral uma kombi dotada de painéis publicitários e de alto-falantes com caixas de som, numa modalidade quase artesanal de difusão das mensagens.
Outros eventos de intenso apelo popular são as festas paroquiais; contudo, tais eventos espaçam-se demais (quermesses, bingos etc.), e essa esporadicidade não cria hábito regular de freqüência, deixando a população ansiosa e sem o costume de participação festiva. Por ocasião das festas juninas, na Operária permanece uma tradição que remonta aos anos 1960, o estouro de fogos de artifício, facilitado pelo fato de o bairro contar com a única loja da cidade que vende esse tipo de material. A medida que o mês de junho se aproxima, as crianças compram traques, busca- pés, estala-salão, rojões e as temidas bombinhas. Conforme o preço aumenta, na mesma proporção ampliam-se o poder de destruição e o barulho de tais engenhos. Muitos se irritam com essas brincadeiras, mas fazem parte de um ritual que os aficcionados não querem abandonar.
Não se deve esquecer da Festa de Reis, manifestação folclórico-religiosa que, na Operária, capitaneada pela família Osano, é realizada há mais de 30 anos no mês de janeiro. A celebração enreda praticamente todo o povo do bairro, já que os palhaços, representando os reis magos, saem às ruas e empreendem uma correria atrás da criançada, num clima de muita descontração e alegria. A festa é rica em simbologia e, acima de tudo, é feita por pura vontade de um povo sofredor, que tem nessa celebração o seu momento de autenticidade, patente quando a trupe é convidada pelos moradores a entrar em seus lares e entoar canções do reizado.

Hoje em dia, os espaços de diversão que se encontram na ativa não são muitos, e os que existem atendem públicos segmentados. É o caso do Clube do Vovô, reservado aos idosos, e da Sukiyaki House, uma casa que mescla restaurante e pista de dança, direcionada aos apreciadores de música sertaneja. A carência de locais especializados em entretenimento não significa que o povo não privilegia a distração. A julgar pelo pipocar de locadoras de vídeo no bairro, a conclusão a que chegamos é a seguinte: as pessoas se encastelaram em suas residências, só saindo para algum acontecimento de relevâncias, e a forma de passar o tempo assumiu uma face eletrônica (televisão, videogame, microcomputador, compact-disc etc.).

fonte:

Memória dos Bairros –  Vila Operaria
Prefeitura do Municipio de Maringá
Secretaria da Cultura
Gerência de Patrimônio Histórico