Astrologia
A astrologia (do grego astron, "astros", "estrelas", "corpos celestes", e logos, "palavra", "estudo") é uma pseudociência[1][2] segundo a qual as posições relativas dos corpos celestes poderiam prover informação sobre a personalidade, as relações humanas, e outros assuntos relacionados à vida do ser humano.
É, como tal, considerada uma atividade divinatória, quando usada como oráculo. O suíço Carl Gustav Jung fez estudos a respeito da astrologia; uma de suas teorias baseadas na mesma é a teoria da Sincronicidade. No entanto, esta é largamente refutada por cientistas e por uma parte da sociedade, por não ter embasamento científico real.[3]
História[editar | editar código-fonte]
Os registros mais antigos sugerem que a astrologia surgiu no terceiro milênio a.C. Ela teve um importante papel na formação das culturas, e sua influência é encontrada na astronomia antiga, nos Vedas, e em várias disciplinas através da história. De fato, até a Idade Moderna, astrologia e astronomia eram indistinguíveis. A astronomia começou a divergir gradualmente da astrologia desde o tempo de Cláudio Ptolomeu, e essa separação culminou no século XVIII com a remoção oficial da astrologia do meio universitário.
Os astrólogos afirmam que o movimento e as posições dos corpos celestes podem influenciar diretamente ou representar eventos na Terra e em escala humana. Alguns astrólogos definem a Astrologia como uma linguagem simbólica, uma forma de arte, ou uma forma de vidência, enquanto outros definem como ciência social e humana.
Estudos científicos[editar | editar código-fonte]
Nenhum estudo científico realizado até hoje mostrou a eficiência da astrologia para descrever personalidades ou fazer previsões e, por isto, ela é considerada pela comunidade científica uma pseudociência ou superstição,[1] não compatível com o Método Científico.[4] No paradigma da física moderna, não existe nenhuma forma de interação que poderia ser responsável pela transmissão da suposta influência entre uma pessoa e a posição de planetas e estrelas no céu no momento do nascimento.
Além disso, todos os testes feitos até agora[carece de fontes], mantendo métodos rigorosos para incluir um grupo de controle e mascaramento adequado entre experimentadores e sujeitos, não resultaram em qualquer efeito além do puro acaso. Por outro lado, alguns testes psicológicos mostram que é possível elaborar descrições de personalidade e previsões suficientemente genéricas para satisfazer a maioria dos membros de um grande público ao mesmo tempo. Este é o efeito conhecido como o Efeito Forer.
Descrição[editar | editar código-fonte]
Durante séculos, a astrologia se baseou na observação de objetos celestes e no registro de seus movimentos. Mais recentemente, os astrólogos têm usado dados coletados pelos astrônomos e organizados em tabelas chamadas efemérides, que mostram as posições dos corpos celestes.
A ferramenta principal da astrologia é o Horóscopo (também conhecido como carta natal, carta astrológica, mapa natal, mapa de nascimento, ou apenas carta). Este mapa é um diagrama bidimensional que representa a posição dos corpos celestes vistos de certo local, que pode variar desde o centro da Terra, à sua superfície, e até tendo o Sol como ponto central. A interpretação do mapa leva em consideração:
- posição destes corpos em relação aos signos do zodíaco;
- cálculo das dignidades astrológicas;
- posição absoluta e relativa destes corpos dentro de um dos sistemas de casas astrológicas;
- os aspectos astrológicos: relação trigonométrica dos corpos celestes entre si.
Há, no entanto, diferenças na forma como estes apoios básicos são usados nas diferentes tradições, as quais incluem: desenvolveram, ao observar o céu, um ou outro tipo de calendário, para medir as variações do clima no decorrer do ano. A função primordial destes calendários era prever eventos cíclicos dos quais dependia a sobrevivência humana, como a chegada das chuvas ou do frio. Esse conhecimento empírico foi a base de classificações variadas dos corpos celestes. As primeiras ideias de constelação surgiram dessa necessidade de acompanhar o movimento das estrelas:
- Astrologia ocidental;
- Astrologia chinesa;
- Jyotish ou Astrologia védica;
- Astrologia cabalística.
Também de maneira geral estas tradições incluem abordagens diferentes, entre elas:
- Astrologia natal: estudo do mapa natal e seus desdobramentos;
- Astrologia horária: o ramo divinatório da Astrologia, analisa um mapa feito para o momento em que a questão é formulada;
- Astrologia eletiva: a determinação do melhor momento para empreender algo;
- Astrologia mundial: correlação entre eventos históricos e aspectos entre os planetas lentos;
- Astrologia agrícola: o uso da posição dos planetas nas práticas agrícolas.
Ao longo do tempo, a astrologia deixou sua marca na linguagem: influenza, nome antigo dado à gripe, veio da atribuição pelos médicos de causas planetárias à doença. Desastre vem da expressão latina dis aster (má estrela). Considerar vem de sider, porque se acreditava que o ferro vinha do espaço.
Embora a astrologia ocidental use quase que exclusivamente o zodíaco tropical, a astrologia hindu usa o zodíaco sideral, que é mais próximo da posição astronômica dos astros no céu, mas seguindo a mesma forma de divisão do céu que o Tropical.
Técnicas astrológicas[editar | editar código-fonte]
A astrologia actual recorre, essencialmente, à interpretação do Mapa Natal do indivíduo (ou entidade) em estudo, e na associação dos significados astrológicos ao contexto da situação apresentada em consulta.
A análise preditiva recorre ainda a algumas técnicas específicas, entre as quais os Trânsitos (comparação da posição dos planetas, num determinado momento, sobre o Mapa Natal do objecto de análise), as Progressões (primárias, secundárias, e terciárias), as Direções de Arco (sendo o Arco Solar o mais utilizado), e o Retorno Solar (cálculo de um novo Mapa para o momento do ano em que o Sol passa exactamente em cima do grau em que estava no momento de nascimento da entidade em análise).
A Astrologia Horária, apesar de ter quase desaparecido ao longo do século XX, tem voltado nos últimos anos, em grande parte devido ao renovado interesse em explorar as técnicas tradicionais da Astrologia antiga.
Conceitos clássicos[editar | editar código-fonte]
Os signos e as partes do corpo[editar | editar código-fonte]
Segundo Marcus Manilius (século I) em seu poema Astronomica, os signos do zodíaco regem as partes do corpo na forma que segue:
- Áries—cabeça;
- Touro—pescoço e garganta;
- Gêmeos—pulmões, braços e ombros;
- Câncer—peito, seios e estômago;
- Leão—coração e parte superior das costas;
- Virgem—abdômen e aparelho digestivo;
- Libra—rins, região lombar e pele;
- Escorpião—genitais;
- Sagitário—quadris e coxas;
- Capricórnio—joelhos, ossos e pele;
- Aquário—pernas e tornozelos;
- Peixes—pés.
As várias astrologias[editar | editar código-fonte]
Além da que se chama hoje ocidental, são praticadas hoje no mundo todo outras formas de astrologia.
Na China, a astrologia é conhecida a partir de 2000 a.C.. Diz a tradição que Buda, ao morrer, chamou os animais para se despedir e somente 12 vieram e estes são os anos da Astrologia Chinesa.
A Índia conheceu a astrologia da antiga Mesopotâmia quando foi invadida, por volta de 1500 a.C..
Os Astecas usavam uma astrologia com 20 signos. Um padre espanhol, que acompanhou a tomada de Hernán Cortés, codificou a astrologia dos Astecas.
A astrologia inglesa do século XIX teve forte influência da teosofia, como praticada por Alice Bailey. Alan Leo e Charles Carter são dois de seus expoentes, e dessa linha surgiu a Faculdade de Astrologia de Londres.
Depois dos estudos de astrologia e alquimia por Carl Gustav Jung, a "astrologia psicológica" tomou corpo em bases principalmente junguianas, embora exista uma "astrologia transpessoal" baseada no trabalho de Roberto Assagioli.
Mais recentemente, há um renascimento da "astrologia clássica", com grande número de obras da antiguidade e renascença sendo retraduzidas para o inglês, a partir de originais em árabe, grego e latim.
Astrologia e ciência[editar | editar código-fonte]
A comunidade científica não considera a astrologia uma ciência, embora haja astrólogos que procurem dar respeitabilidade às suas atividades usando justificações que afirmam serem científicas. Um grande número de astrólogos praticantes e de "filósofos da astrologia" a vê como uma arte baseada em conhecimento técnico, conhecimento tradicional e uma concepção sistêmica do universo.
Uma das ideias base da astrologia, talvez seu pilar fundamental, é a de que "os eventos na Terra estão relacionados aos movimentos dos planetas no céu";[5] ou de forma explícita, que o posicionamento dos astros no momento do nascimento de uma pessoa determinam não apenas o seu caráter mas também seu destino. Contudo, não há consenso entre os astrólogos sobre como se processa esta relação: uns a atribuem à influência de campos eletromagnéticos ou semelhantes, vínculo imediatamente rechaçado pela ciência; outros a ciclos, analogia, sincronicidade, ou outras formas de correlação mais sutis, nenhuma delas apoiada em qualquer fundamento científico sólido, contudo.
Na tentativa de estabelecer reconhecimento pela ciência oficial, o trabalho estatístico de Michel Gauquelin analisando exaustivamente a possível influência de determinados planetas no sucesso profissional via confronto de dados coletados com o mapa astral de diversas personalidades importantes em várias áreas de atuação é amplamente citado pelos astrólogos quando se encontram em meios acadêmicos; contudo, a pergunta chave ainda persiste: "Por que as posições de outros planetas contra o céu ao fundo, conforme vistos da Terra, deveriam ter quaisquer correlações com as macromoléculas que se denominam vida inteligente e um planeta inferior?"[6] Os astrólogos não fornecem resposta conclusiva aceitável, científica ou não, à questão.
Uma questão importante que pesa contra a validade da astrologia atrela-se aos gêmeos univitelinos. A concepção é única, e há casos em que "o encontro com a luz" dá-se com diferença de menos de um minuto, de forma que as posições dos astros no céu são, para ambos, exatamente as mesmas uma vez consideradas as incertezas intrínsecas à confecção de seus mapas astrais. Contudo, não raro são os casos em que os gêmeos têm personalidades e destinos muito distintos um do outro. A situação mostra-se análoga ao se considerarem casos de nascimentos simultâneos a partir de mães diferentes. Outra questão importante atrela-se à não falseabilidade das afirmações astrológicas. São poucas para não dizer inexistentes as "previsões" astrológicas que não se mostram vagas o suficiente para se aplicarem a qualquer situação.[5]
Geoffrey Dean, pesquisador australiano que realizou testes extensivos sobre astrologia, inverteu as leituras astrológicas de 22 pessoas, substituindo as frases originais dos horóscopos por outras que diziam o oposto. Ainda assim, as pessoas nesse estudo disseram que as leituras se aplicavam a elas tão frequentemente (95% das vezes) quanto as pessoas a quem foram dadas as leituras corretas. Aparentemente, aqueles que procuram astrólogos desejam apenas uma orientação, qualquer que seja ela.[7]
Para o físico britânico Stephen Hawking, contudo, "... o verdadeiro motivo porque a maioria dos cientistas não acredita em astrologia não é a existência de provas científicas ou falta delas, e sim o fato de ela não ser compatível com outras teorias [científicas] testadas pela experiência." Seguindo-se o seu raciocínio, o estabelecimento do modelo heliocêntrico por Nicolau Copérnico e Galileu Galilei bem como o estabelecimento da mecânica celeste por Isaac Newton - desvendando a regularidade e estabelecendo a previsibilidade com precisão outrora inimaginável dos movimentos dos planetas no céu - transformaram a astrologia em algo extremamente inaceitável (ao menos racionalmente).
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Cepticismo
- Era de Aquário
- Esoterismo
- Mecânica Celeste
- Michel Gauquelin
- Misticismo
- Nova Era
- Ptolemeu
- Sinastria
- Sincronicidade
- Zodíaco
- Signos zodiacais
Fontes[editar | editar código-fonte]
- Anna Maria Costa Ribeiro: Conhecimento da Astrologia, Hipocampo.
- Derek e Julia Parker: O Grande Livro da Astrologia, Círculo do Livro.
- Helena Avelar e Luis Ribeiro: Tratado das Esferas, Pergaminho.
- Melanie Reinhart: Chiron and the Healing Journey, Starwalker Press.
Referências
- ↑ a b Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Instituto de Física - Departamento de astronomia - Hipertextos: Astrologia não é ciência.
- ↑ Thagard, Paul R. «Why Astrology is a Pseudoscience». Proceedings of the Biennial Meeting of the Philosophy of Science Association.: 1: 223–234.(1978)
- ↑ Orsi, Carlos (20 de julho de 2018). «Por que cientistas dizem que a astrologia não funciona?». UOL. Consultado em 29 de dezembro de 2022
- ↑ (em inglês) A double-blind test of astrology. Nature Publishing Group.
- ↑ a b Hawking,Stephen - O Universo numa Casca de Noz - Editora ARX - 9 edição - ISBN 85-7581-017-0.
- ↑ Conforme inquirido por Stephen Hawking em seu livro "O Universo numa Casca de Noz".
- ↑ Alexandre Wuensche, Carlos (2009). «Astronomia versus Astrologia». Ciência hoje. 43 (256): 24 à 29